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domingo, 1 de maio de 2011

CORRIDA DE CAVALOS, PLANEJAMENTO, PARTE II

PLANEJAMENTO DE CORRIDAS (2ª PARTE)

Roberto Grimaldi Seabra aprendeu muito com o príncipe Aly Khan sobre a arte de planejar corridas. O príncipe, que passou a vida toda só viajando e pensando em mulheres e cavalos de corrida, não era um especialista na criação, mas de corridas sabia tudo. E o Roberto foi um ótimo aprendiz.

Na Europa era, ou ainda é, permitida a inscrição de muitos cavalos do mesmo proprietário no mesmo páreo, e é normal ainda hoje os grandes proprietários de bons animais correrem quatro em grandes prêmios. O problema é que um partido de um deles reflete-se nos outros, isto é, uma eventual desclassificação atinge também as performances de todos.

No Brasil, quando da última reforma do Código Nacional de Corridas, foi cogitado aumentar o limite de dois para três cavalos do mesmo proprietário por páreo, mas a idéia não prosperou porque causaria na prática um caos, alterando resultados até lícitos, e o nosso turfe não é civilizado a esse ponto.

Mas houve época em que, nos grandes prêmios, eram permitidos três animais do mesmo proprietário, e ficaram famosos os páreos em que Escorial com Francisco Irigoyen, Lohengrin com Luiz Dias e Emoción com Luiz Rigoni, enfrentando animais da qualidade de Gaudeamus, Xaveco e outros. Rigoni imprimia na frente o ritmo adequado no primeiro terço da corrida, dava lugar a Dias para enfrentar a segunda parte do percurso, e Irigoyen, que trazia Escorial sempre atento e por perto, arrasava na reta final. Era um espetáculo de planejamento.

Outra corrida memorável foi quando de um GP Outono, então a 1ª Prova da Tríplice Coroa carioca. O Stud Seabra tinha dois pretendentes. Red Cap foi o preferido de Francisco Irigoyen, um potro com campanha em Cidade Jardim e que vinha sendo muito falado, e a única potranca do lote, a excelente Bucarest, que iria montada por Ubirajara Cunha, um dos melhores jóqueis cariocas da época e que era um ótimo cumpridor de instruções. Todos já sabiam o que iria acontecer, Bucarest iria para a ponta como “coelho” do Red Cap. Mas todos não sabiam, pensavam que sabiam. O que se viu foi desde a largada Red Cap ser lançado à frente, imprimindo um ritmo forte e lutando com as forças do páreo, que não queriam deixá-lo escapar ou fazer um ritmo. Adequado aos interesses de Irigoyen. Mas não era nada disso, Red Cap foi propositada e habitualmente fazer corrida para Bucarest, era ele e não ela o “coelho”, e o páreo foi decidido nos últimos 300 metros, com os da frente cansados e ultrapassados pela fulminante atropelada da potranca. Artimanhas de um bom planejador.

Às vezes não há o que fazer, dada à superioridade de um cavalo de exceção. O inesgotável Farwell, invicto no Brasil, ia mais uma vez defender a sua supremacia em Cidade Jardim, e foi do Rio de Janeiro, Hyperio, do Stud Cápua (Haras Vale da Boa Esperança). Como Farwell sempre ia para a ponta em ritmo forte, mantinha-se sempre com autoridade na frente, e na reta final ainda aumentava a diferença, o ótimo jóquei de Hyperio, Luiz Dias, entendeu de fazer uma surpreendente estratégia. Dada a partida, Farwell na ponta e Hyperio, tocado por Dias, avançou para junto dele, e Luiz Dias chicoteou Farwell algumas vezes no sentido dele disparar, não fazer um ritmo que lhe convinha mas acelerar forte desde o princípio, visando uma reta final mais pobre e quem sabe dando chances de ultrapassagens. Chicoteado pelo jóquei de Hyperio, Farwell partiu para um ritmo violentíssimo e livrou vários corpos de vantagem. Hyperio foi então contido, ficou para último, aguardando a reta. E quando ela veio, viu-se Farwell em louca disparada cada vez mais longe dos seus adversários e Hyperio atropelar para conseguir o 2° lugar. Valeu a tentativa, mas esse planejamento não deu certo.


por Milton Lodi

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