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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Orlando Lima, Entrevista com o hipólogo Orlando Lima

Com a proximidade da época em que acontecem os leilões de potros, em que os proprietários buscam “descobrir” potrinhos que sejam craques, o Raia Leve entrevista Orlando Lima.

Um dos poucos hipólogos brasileiros, Orlando Lima, economista, turfista a 39 anos, dedicou boa parte de sua vida ao estudo e à pesquisa do Puro-Sangue Inglês, sendo autor de inúmeros trabalhos sobre as principais linhagens mundiais.

Com sua empresa, Goldblend Consultoria do PSI, realiza estudos que vão desde a seleção de potros em leilões, bem como estudos de cruzamentos, para diversos criadores e proprietários.

Recentemente, selecionou para um cliente, Another Xhow, filho de Suspicious Mind e Esperta Demais, por Stuka, que foi 2° no GP Brasil de 2010. Muito firme em seus conceitos e premissas, segue provando que a escolha de potros deve obedecer estudos e critérios técnicos.

Orlando Lima fala sobre a criação brasileira no cenário internacional, bem como o único desafio a ser superado pelos cavalos brasileiros que é ganhar uma prova de grupo I na Europa.

Leia a seguir a íntegra da entrevista.

RL: Como situa o PSI brasileiro no cenário do Turfe internacional?

OL: Em meu julgamento, a Criação brasileira do PSI alcançou seu auge nas décadas de 50, 60 e 70, época na qual nosso PSI não ia para o Exterior, a não ser em esporádicas incursões pela Argentina.

A partir de meados da década de 80, as saídas de nosso PSI para o Exterior, notadamente para os USA, África do Sul, Argentina e Dubai, tornaram-se, gradativamente, mais freqüentes e foram alcançadas expressivas vitórias, inclusive, em Provas de Grupo 1, culminado com a vitória de GLÓRIA DE CAMPEÃO na Dubai World Cup.

Considero, entretanto, que a maior façanha realizada por um PSI nascido no Brasil no Exterior, pertence a HARD BUCK, ao alcançar o 2º lugar no King George VI and the Queen Elizabeth Stakes, na Inglaterra, numa das Provas mais seletivas dos últimos anos do Calendário nobre europeu, Prova que contou com a participação de 10 vencedoras de Grupo 1.

Assim sendo, resta, ainda, um pesado e difícil DESAFIO a ser vencido pelo PSI brasileiro, ou seja, vencer Prova de Grupo 1 do Calendário nobre da Europa (Itália, Alemanha, Irlanda, Inglaterra e França).

RL: Quais as diferenças primordiais entre os modelos de Turfe europeu e norte americano?

OL: O modelo de Turfe norte americano privilegia distâncias entre os 1 600 m e os 2 000 m, pistas de areia / sintéticas, com Hipódromos apresentando traçado caracterizado por curvas mais fechadas e retas mais curtas, Calendário nobre contemplando suas principais Provas com estas características, resultando em Campanhas curtas e valorizando as Temporadas dos 2 e 3 anos.

Assim sendo, a Criação norte americana, essencialmente, busca dois predicados primordiais: Precocidade e Velocidade.

O modelo de Turfe europeu contempla, em igualdade de importância, todas as distâncias clássicas, mas ressaltando e privilegiando as Provas de Grupo 1 disputadas em 2 400 m, pista de grama, considerada como a distância clássica por excelência, que pontuam seu Calendário nobre, com Hipódromos apresentando um traçado caracterizado por curvas mais abertas, retas mais longas e as Temporadas dos 3 e 4 anos.

Assim sendo, a Criação européia procura equilibrar Velocidade, Consistência e Resistência em todas as faixas do Alcance Estamínico, sobretudo na milha e meia.

RL: Em que modelo enquadra o PSI brasileiro? Qual sua posição sobre a atual situação da Criação brasileira?

OL: As duas questões guardam uma estreita correlação!

A Criação brasileira foi baseada e desenvolvida a partir da Criação européia, particularmente influenciada pela Criação francesa, o que, evidente e naturalmente, determinou que o PSI brasileiro se ajustasse às características do modelo de Turfe europeu, refletido no traçado e pista principal de seus dois Hipódromos mais importantes e no seu Calendário nobre, contemplando suas principais Provas com características muito próximas das disputadas na Europa.

Até a década de 80, a influência quase absoluta da Criação européia em nossa Criação, proporcionou o nascimento de importantes Produtos, sobretudo nas décadas de 50 e 60 que, certamente, se fossem enviados para o Exterior, representariam com grande dignidade nossa Criação do PSI.

A partir de meados da década de 80, presenciamos uma autêntica invasão de Reprodutores típicos da Criação norte americana, num movimento radical, quase absoluto, resultando em Produtos com características distintas das contempladas em nosso Calendário nobre e traçado e pistas de nossos dois principais Hipódromos.

A partir de 2008, se torna nítida uma expressiva reação da Criação brasileira, ao importar, definitivamente ou através do sistema de “shuttle”, Reprodutores europeus e, inclusive, norte americanos, altamente qualificados, alguns dos quais, devidamente comprovados em seus países de origem, o que certamente contribuirá decisivamente para elevar o nível de qualidade da Criação brasileira do PSI.


Orlando Lima é colunista do Raia Leve

RL: Pode citar algum efeito importante da Criação norte americana sobre a Criação brasileira?

OL: O efeito principal dessa influência atingiu em cheio os Fundistas da Criação brasileira, especialistas na distância clássica por excelência do modelo europeu de Turfe, ou seja, os 2 400 m, pista de grama.

Apesar do expressivo número de inscrições das principais Provas de Grupo1, disputadas em 2 400 m, nos dois principais Hipódromos brasileiros, poucos estavam geneticamente capacitados para abordar, com sucesso, essa distância.

A comprovação desta situação ocorreu na disputa da Taça de Ouro Caliente, composta por três Provas de Grupo 2, em 2 400 m, com baixo número de inscrições, uma das quais disputada por apenas 3 a 4 animais.

Devo assinalar o esforço que o Jockey Club Brasileiro vem fazendo em prol dos desprezados, mas importantes, “Stayers”, com a realização da Taça QUATI, patrocinada pelo fundamental e tradicional Criador, Lineu de Paula Machado (Haras São José & Expedictus), composta por uma série de Provas disputadas a partir dos 2 800 m.

RL: No início desta Entrevista, Vc. alertou para o DESAFIO que o PSI brasileiro falta superar! Pode apontar um caminho para vencer este desafio?

OL: Na realidade, quem pesquisou e propôs o DESAFIO, foi o extraordinário Criador José Carlos Fragoso Pires Junior (Haras Santa Ana do Rio Grande).

Como Economista, me especializei em Planejamento Estratégico, cujo objetivo maior é o de viabilizar a realização de Projetos.

Partindo desse conhecimento, formulei um Projeto com abrangência desde a Seleção da Matriz até o Condicionamento / Doma do Produto, até ser entregue ao Treinador, devidamente capacitado para suportar o rigor do Treinamento de pista.

Para sua orientação, o Treinador receberá referências específicas sobre o Produto e sua Campanha deverá ser orientada de tal forma, para que se possa avaliar, com propriedade, seu efetivo potencial para participar, com sucesso, de Provas na Europa.

O detalhamento e abrangência desse Projeto será o tema de Artigo a ser exibido na Coluna FINO TRATO do RAIA LEVE, muito em breve.

RL: Com muita freqüência Vc. se refere ao Planejamento Genético! Pode nos situar sobre sua importância para a Criação do PSI no Brasil?

OL: Processo essencialmente DINÂMICO, não deve se restringir a apenas uma ou duas Temporadas de Monta, já que envolve, em seu ponto de partida, uma constante Seleção e Renovação do Plantel de Matrizes do Haras, assim como, a Seleção de Reprodutores a cada Temporada de Monta, para o qual está sendo realizado o Planejamento Genético.

Em função da extensão e abrangência de seu conceito, extrapola a simples questão genética, ajustando-se adequadamente a um “mixed” de Planejamentos, Estratégico e Genético.

Em última análise, reúne e aplica o instrumental disponível para criar o PSI em suas diversas Etapas, desde a Concepção até o Condicionamento / Doma do Produto.

No Artigo sobre o Projeto que será exibido no RAIA LEVE, consta uma descrição sumária do Planejamento Genético, mas havendo interesse no seu conhecimento por completo e detalhado, poderá acessar meu blog (www.goldblendconsultoria.blogspot.com) ou acessá-lo pelo RAIA LEVE (Links – Brasil – Consultoria Goldblend/ Orlando Lima.

Planejamento Genético é de fundamental importância para qualquer Criação do PSI mas, particularmente, para a Criação brasileira, em boa parte caracterizada por um amadorismo cultural, refletido na casualidade de seus cruzamentos.

RL: Como Economista, como avalia a situação do Mercado do PSI, em âmbito nacional e internacional?

OL: O Mercado Interno do PSI parece passar por um período de transição, refletido na divergência de preços alcançados nos Leilões de 2010 e início de 2011, não permitindo uma avaliação mais precisa de sua tendência.

A lamentar a sequência de Leilões de Liquidação e Redução de Plantéis de Matrizes, resultando numa desvalorização sem precedentes desse fundamental elemento para a Criação do PSI e, consequentemente, evidenciando uma retração de nossa Criação.

O Mercado Externo do PSI foi atingido diretamente pela crise da Economia que eclodiu nos USA no final de 2008, com séria repercussão na Europa, fazendo despencar os preços praticados nos principais Leilões dos USA e da Europa.

Poucos foram os Criadores brasileiros que usufruíram dessa oportunidade e muito menos os que usufruíram dos Leilões europeus.

Recente Leilão de Keeneland, entretanto, já sinalizou com a tendência para recuperação desse fundamental Mercado do PSI, compatível com a sinalização do início da recuperação da Economia desses países, mas com uma boa “garimpagem”, ainda é possível realizar boas aquisições, com um bom Custo / Benefício.

da Redação - Raia Leve
http://www.raialeve.com.br

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