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sábado, 9 de abril de 2011

NOTAS VARIADAS, MILTON LODI

NOTAS VARIADAS

1- Há mais de 50 anos na Gávea, havia treinadores com muitos representantes no turfe. Entre as mais numerosas estavam as famílias Morgado, Coutinho e Feijó. Os irmãos Oswaldo Feijó eram excelentes treinadores, mas com procedimentos diferentes. Gonçalino trabalhava os seus cavalos de forma mais suave, abrindo o fôlego, galopando comedidamente, treinando individualizado. Por suas mãos passaram e se fizeram treinadores de muita grandeza, dentre outros, Alcides Morales e José Silvestre de Souza (o Zé Pinto). O irmão Oswaldo Feijó era diferente, gostava de trabalhos fortes, este era o sistema dele de treinamento. Ele teve aos seus cuidados cavalos clássicos de muito bom padrão, dentre eles o tríplicecoroado Quiproquó. No fim da vida, com tuberculose em alto grau, mais de uma vez chegou a receber a extrema-unção, o que não o impedia de chegar ao prado ainda de noite, quase sem cor de tanta palidez, longo sobretudo preto que ia até os pés, e ficava sentado em uma cadeira na pelouse da tribuna dos profissionais durante todo o período dos trabalhadores, que eram praticados pelo seu filho mais moço, Enir, seu colaborador mais direto. O outro filho de Oswaldo Feijó que era treinador na Gávea chamava-se Adayr, muito bom treinador por sinal. Mas nada impedia Oswaldo Feijó de se levantar da cama de madrugada para trabalhar, e assim foi até a morte. Com a morte do pai, Enir Feijó, que tinha apelido de Marocas, foi para Cidade Jardim, e lá obteve sucesso incomum, levantando varias estatísticas. Sempre sorridente e amistoso, Enir Feijó marcou a sua época. Ele não exigia tanto nos trabalhos matinais como o pai Oswaldo, mas tinha como característica de treinamento só passear puxados na véspera das corridas os seus animais inscritos. Era um dia de reposição das forças, gastas nos trabalhos diários. Foi com essa técnica, não importando a distância do páreo a ser disputado, só passeando puxados na véspera que Enir Feijó levantou várias estatísticas de treinadores e quando não ganhava chegava sempre bem colocado.

2- A maravilhosa Garbosa Bruleur foi batizada como Garbosa II. Mais uma justa determinação do Stud Book Brasileiro proibiu a repetição de nomes mesmo com o artifício de II ou mais. A mãe de Garbosa era Lolita, filha de Ksar, por Bruleur. O nome optado foi Garbosa Bruleur. Com Kameran Khan ocorreu fato similar. Quando ele foi importado, já havia um potro no Haras SantaAnitta registrado como Kameran. Foi acrescentado o sobrenome de Khan, pois ele era criado por Aga Khan. Também Flamboyant de Fresnay quando chegou ao Brasil como Flamboyant já encontrou um homônimo do Haras Guanabara, e ganhou o sobrenome porque havia nascido no Haras Fresnay-leBoffard, de Marcel Boussac. Dar nomes aos cavalos é tarefa agradável, e requer bom gosto.

3- Quando o porto-riquenho Jorge Velásquez foi montar um fim de semana em Cidade Jardim, na época de ouro do turfe paulista, gestões de Luiz Oliveira de Barros, J. Adhemar de Almeida Prado e Hernani Azevedo Silva, ele não trouxe chicote, pediu um emprestado. Foi uma forma inteligente de aproximação com os jóqueis paulistas, criando desde logo um clima de cordialidade. E Velásquez fez mais, informou à comissão de corridas que todos os eventuais prêmios que porventura tivesse a ter direitos ele antecipadamente os doava à Associação dos Profissionais. A prática de um jóquei visitante não levar o seu próprio chicote redundou em fato curioso na Gávea.

Na primeira vez que voltou ao Jockey Club Brasileiro para montar, após a sua espetacular vitória no Grande Prêmio Brasil com Big Lark, havia um sentimento de raiva de alguns comissários contra ele, por não terem podido determinar uma desclassificação a favor do 2º colocado Baronius. Quando os jóqueis aguardavam a ordem para ir montar na sala a eles reservada, repentinamente irrompeu um furioso comissário de corridas, vociferando que o chicote que o Bolino pretendia usar era irregular, tinha comprimento demasiado. E exigiu que o Bolino lhe entregasse o chicote. O Bolino obedeceu a ordem, e logo disse ao Goncinha (G.F.Almeida) que ele não ia poder montar com o chicote que lhe fora por ele emprestado, precisava de outro. O Goncinha então disse que não havia problemas, podia emprestar outro, mas com aquele chicote então proibido ele costumava montar normalmente nas corridas da Gávea. O tal comissário ficou mudo, empalideceu, largou o chicote e foi embora, e se ele tivesse vergonha na cara, certamente teria ficado envergonhado. Os jóqueis acharam graça, não era a primeira vez, e certamente não seria última, que um dos desastrados comissários de então fazia um vexame, fruto de prepotência exacerbada.

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