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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Hiroshima e Nagasaki não podemos esquecer a Megamorte

As bombas sobre Hiroshima e Nagasaki foram as armas da megamorte, ou seja, a morte também continuada, a longo prazo, destruindo seres humanos na hora e por gerações sucessivas, através da radioatividade.

No livro , "O último trem de Hiroshima", de 2010, o Ph.D. e cientista Charles R. Pellegrino pinta-nos o mais assombroso quadro de destruição já revelado no mundo. Quando a bomba explodiu, escancarou as portas do inferno aos olhos humanos, primeiro pelo fulgor de uma clarão nunca testemunhado, em seguida por um estrondo que parecia anunciar a fragmentação do planeta. Foi o que os japoneses chamaram de "pika-don". Aos poucos, ante a visão estarrecida dos que ainda estavam vivos e logo morreriam, formou-se o gigantesco cogumelo, símbolo do apocalipse atômico liberado.

Após a cidade ter sido varrida pela onda de choque semelhando um tsunami de vento e depois de fogo, que tragava edifícios, árvores e seres humanos, fenômenos estarrecedores começaram a ocorrer em série. Sob os efeitos do clarão-estrondo o chão estalava e tremia, faíscas invadiam os espaços, redemoinhos arremessavam as pessoas para o ar. Uma bola de fogo rolava sobre as cabeças, a cidade parecia iluminada pelo brilho de "mil sóis", o chamado "punho de urânio" sacrificava os desesperados, que mergulhavam no rio para suavizar as queimaduras e saciar a sede incontrolável.

Quem não atingia o rio, bebia a água da chuva negra, que despencava "como bagos de uva" dos céus escurecidos, ingerindo a radioatividade letal, fonte de doenças monstruosas. A pele descolava com a facilidade "das luvas que se descalçam". Radiações e choques térmicos desorientavam os sobreviventes, acossados por labaredas atômicas, raios-x e raios gama. A temperatura convertia "um corpo humano em névoa carbonizada e ossos em brasas". Mulheres que estavam sentadas nas portas de um banco evaporaram (sic!). Muitas outras pessoas sofreram "vaporização instantânea" e viraram fumaça, deixando nos locais os contornos dos corpos. Uma criança, atingida na bicicleta, ficou colada ao selim, endurecida como uma estátua de carvão. Cavalos corriam sem controle, relinchando e buscando socorro para as crinas em chamas.

Preparem-se para o pior. O autor narra o espanto de dois sobreviventes que, pouco após a explosão, ouviram um ruído estranho por perto e testemunharam a louca correria de um homem que, tendo tido os pés decepados pela bomba, batia no chão com os ossos expostos das tíbias descarnadas. Diz o autor, na página 26: "O único som que emitiu foi um clique ritmado na superfície da rua, como se estivesse dançando com sapatos de sola de metal. Mas ele não tinha sapatos. Seus pés haviam sumido e as pontas das suas tíbias, lascando-se e quebrando a cada passo contra o pavimento, eram a fonte de ruído", assinala o autor.

Para completar essa imagem macabra e surrealista, que nem Poe conceberia, Pellegrino informa ainda que o homem "batia os braços como se fosse um pássaro", tendo protagonizado "o sapateado no inferno de Dante".

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