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terça-feira, 1 de março de 2011

JAEL BARROS CANDIDATO, DA OPOSIÇÃO, A PRESIDENCIA DO JOCKEY CLUB DO PARANÁ

Jael B. Barros: um criador de sucesso
Sem exagero, trata-se de um dos pilares para a criação paranaense em toda a sua história. Muitos chegam a colocar o Haras J.B.Barros como o maior estabelecimento criatório radicado em terras paranaenses em todos os tempos. E, pela quantidade de expressivos resultados angariados pela farda rubro-negra – e tantos outros não por defensores da mesma, mas por crioulos ali nascidos e crescidos – tais observações fazem-se mais do que pertinentes.

No último dia 26 de Setembro, quando o alazão Jaburú Vip cruzou o disco em primeiro no Grande Prêmio Paraná (gr.I), o Haras J.B.Barros no ato, vencia a sua quinta edição da prova, ao passo que alcançava o posto de criador com o maior número de conquistas no páreo em toda a sua história. São números que representam toda a magnitude de um nome que sempre esteve intimamente ligado aos troféus e a novas vitórias a cada ano.

Figura expressiva, de presença constante na vila hípica do Hipódromo do Tarumã, em Curitiba, Jael Bergamaschi Barros é o homem que está por trás de toda esta história envolvendo o Haras J.B.Barros, e que costuma desfrutar de uma rotina de vitórias e muitas emoções. Em entrevista concedida à reportagem do Raia Leve, Jael discorreu sobre vários temas envolvendo o seu haras, o turfe num contexto geral e o futuro do esporte no país.

R.L.: Quando e em quais circunstâncias surgiu o Haras J.B.Barros?

J.B.: O Haras J.B.Barros surgiu no final da década de 70. Eu, bem dizer, nasci numa fazenda, e sempre gostei do contato com este ambiente, sendo um amante do cavalo, desde muito cedo. E somando isso ao meu gosto crescente pelas corridas de cavalo, adquiri uma chácara no bairro do Pinheirinho, em Curitiba, onde comecei a criar através de um lote de mais ou menos 20 éguas que adquiri num leilão em São Paulo, na companhia do meu grande amigo João Pedro Alcântara, titular do Haras Mauá. A primeira vitória da farda aconteceu com uma égua chamada Svetlana, filha de Canterbury, criada pelo Haras São José & Expedictus.

R.L.: Dentre os profissionais com os quais o J.B.Barros esteve envolvido durante a sua história, quais foram os que mais marcaram o estabelecimento?

J.B.: Muitos profissionais nos proporcionaram importantes conquistas, dentro e fora das pistas, e é algo complicado apontar “este” ou “aquele” nome. Contudo, em algumas circunstâncias, alguns deixaram a sua marca de modo mais consistente em nossa história, como foi o caso do Francisco Assis Monteiro, que baseado no centro de treinamentos que mantínhamos na região metropolitana de Curitiba, treinou cavalos meus que venceram quase todos os grandes prêmios do Tarumã, e outros tantos em Cidade Jardim. Laerte Pereira, uma “cria” do Dr.Heliodoro de Oliveira Duboc, que cuidou dos meus cavalos em São Paulo durante um bom tempo, e Antônio Alvani, que também em São Paulo venceu muitas corridas para nós, são outros dois nomes dos quais me lembro com bastante carinho. Dentre os profissionais que estiveram conosco num passado mais recente, destaco o Dr.Marlon Siqueira, que por sua vez segue sendo o responsável pelas matrizes do haras e pelo atendimento aos nossos animais em treinamento.

R.L.: O quê Much Better representa na história do Haras J.B.Barros?

J.B.: Olhe, não seria exagero se eu te dissesse que ele representa quase tudo para nós. Foi um cavalo excepcional, dono de uma campanha maravilhosa, e que me proporcionou momentos maravilhosos. Aliás, não há outro animal que tenha desenvolvido uma campanha sequer semelhante a dele, vencendo um GP São Paulo, um GP Brasil, um Pellegrini, e por duas vezes o “Latino” – primeiro em La Plata e depois na Gávea. Ele foi ainda o primeiro cavalo brasileiro a competir no Arco do Triunfo na França, feito este que só foi repetido uma vez até agora, por sinal com outro crioulo do haras, o Hot Six. Enfim, se fosse possível eu criar um “segundo” Much Better, eu seria o homem mais feliz do Mundo.

R.L.: Por falar em Much Better, vemos que o Haras J.B.Barros já venceu os principais páreos do país e do continente. É também o criador com o maior número de vitórias no Grande Prêmio Paraná (cinco vezes) e no GP Associação Latino Americana de Jockey Clubes e Hipódromos (três vezes). O quê ainda falta para o currículo do estabelecimento?

J.B.: Sinceramente, a nível nacional, acredito que não falta quase nada. Agora, mudando o foco para competições internacionais, tenho muita vontade de ver um crioulo meu vencer a Dubai World Cup, que tanto técnica quanto financeiramente é muito compensatória àqueles que a conquistam. E essa vitória, tenha certeza, ainda virá!

R.L.: Há poucos anos o Haras J.B.Barros possuía um vasto plantel de reprodutoras, que formavam um dos contingentes mais numerosos do Estado do Paraná. Hoje sabemos que parte do haras foi comercializada e que o número de éguas – agora no Haras Siqueira & Mercadante – também reduziu bastante. Qual é a situação atual do haras, do plantel, e podemos dizer que estas mudanças são reflexos da crise vivida pelo turfe nacional na atualidade?

J.B.: O haras e o complexo do centro de treinamentos foram comercializados, e como você bem disse hoje mantenho as minhas éguas no Haras Siqueira & Mercadante, sob a responsabilidade do Dr.Marlon Siqueira. Meu plantel atual é composto por vinte éguas, que são justamente as melhores que eu tinha em mãos à época que comecei a “enxugar” o lote de matrizes do Haras J.B.Barros. Hoje não há mais espaço para se criar com “égua mais ou menos”. Você tem que priorizar a excelência na criação, e por isso dei manutenção somente à nata do plantel. E sem dúvida alguma: os momentos difíceis vividos pelo turfe nacional possuem sim grande influência em decisões como estas, onde vendi um haras e boa parte das minhas éguas. É uma pena, mas a situação crítica faz vítimas atrás de vítimas, sendo muito comum de uns tempos pra cá vermos a quase todo mês um novo criador decidindo pela liquidação do seu plantel, pelo encerramento das suas atividades. É de se lamentar.

R.L.: A conquista do Jaburú Vip no GP Paraná foi cercada de significados. Ele é filho e neto de garanhões que receberam a confiança do J.B.Barros, mas que em contrapartida foram rejeitados e “queimados” por muita gente. O Edgar Araújo, treinador do animal, é um profissional que está estreitamente ligado à história do Haras J.B.Barros, e que recebeu de você a primeira grande oportunidade após encerrar a carreira de jóquei. Sendo assim, esta vitória tem um gosto especial por ter sido feita “em casa”?

J.B.: Sim! Ver um crioulo nosso, filho de um garanhão nosso e neto de outro que também nos pertenceu, vencendo um páreo tão importante como o GP Paraná, é uma sensação indescritível. Aquele dia o cavalo estava competindo apenas pela quarta vez em sua campanha, e mesmo assim venceu de maneira incontestável. É um potro excepcional, o qual temos em alta conta desde sempre. Aliás, depositávamos muita “fé” em sua corrida, uma vez que os seus trabalhos eram excelentes. Mas não é de nosso feitio – nem se deve fazer isso – sair por aí “cantando” o cavalo de “barbada” para todo mundo ouvir, e no final das contas deu certo. E quanto ao Araújo, foi ainda mais gratificante. Sempre o admirei como jóquei, principalmente pela sua lisura, e por nunca ter ouvido qualquer comentário que colocasse em xeque a sua idoneidade. Também foi ele o jóquei da nossa Kanaloa, que venceu o GP Paraná de 1992, e de tantos outros corredores importantes que defenderam a nossa farda. Aí, quando soube que ele havia parado de montar, e estava enveredando pela carreira de treinador, pensei que seria bastante interessante investir nele, lhe conferir uma oportunidade. E acabou dando certo, uma vez que ele é um profissional muito atencioso, esforçado e que por esses e outros motivos está obtendo ótimos resultados.

R.L.: No próximo sábado, dois crioulos seus – Jaburu Vip e Jéca – competirão no GP Derby Paulista, sendo que ambos são filhos do Inexplicable, já tendo mostrado, tanto um quanto o outro, bom rendimento em distâncias mais alentadas. Ainda este ano, a égua Inchatillon, filha deste mesmo Inexplicable, venceu duas provas de Grupo 1 na distância dos 2.000 metros, e no último fim de semana foi a segunda colocada em prova disputada na distância dos 2.400 metros. Fatos como estes são os melhores tipos de respostas aos muitos críticos do cavalo, que argumentam, principalmente, que trata-se de um reprodutor limitado a produzir velocistas?

J.B.: Concordo plenamente com a sua observação. Quando você traz um garanhão para o Brasil, ele pode ser a melhor opção disponível no mercado no momento, mas já fique sabendo: as críticas serão muitas. O pessoal não quer nem saber quem o cavalo é, o quê ele correu, qual a sua filiação, não: a única coisa com a qual se preocupam é tentar “queimar” o cavalo. Neste caso em específico, o Inexplicable chegou “quietinho”, sem muito alarde, e aos poucos foi conquistando o seu espaço. Hoje, note que ele é muito bem citado desde as pencas até as principais provas de fundo do calendário nacional. Sendo ele um filho do Miswaki, que nos traz o sangue de Mr.Prospector, numa mãe Nureyev, que foi um dos maiores reprodutores da história do turfe Mundial, não há o quê contestar em matéria de pedigree. E a campanha do Inexplicable só reforça a sua filiação, uma vez que ele foi ganhador de provas de grupo e recordista nos Estados Unidos.

R.L.: O quê você espera do futuro do turfe nacional?

J.B.: Não há dúvidas de que a situação do nosso turfe é bastante complicada. Contudo, eu, talvez por ser uma pessoa bastante otimista, acredito que depois de chegarmos, de fato, ao “fundo do poço”, estamos começando a melhorar, a subir. Os progressos são lentos, quase que imperceptíveis, mas consigo sentir algumas melhoras nos últimos anos. A única coisa que me chateia, e que tenho certeza, não é a melhor maneira de se sanar as dívidas das entidades que promovem corridas no Brasil, ou ainda, não pode servir como fonte de receita para as mesmas, é a venda do patrimônio dos clubes. Isso aconteceu com alguns terrenos no caso do Jockey Club do Paraná, e está prestes a acontecer também, em proporções muito maiores – pois não se trata de alguns terrenos e sim de uma vila hípica inteira – no caso do Jockey Club Brasileiro. É preciso buscar alternativas que não essas para recuperar financeira e estruturalmente o turfe brasileiro.

por Victor Corrêa
http://www.raialeve.com.br

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