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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CORRIDAS DE CAVALOS,Betfair. O dia em que a Wall Street das corridas de cavalos parou

As salas estão silenciosas nos três andares da sede da Betfair em Hammersmith, Londres. Há 12 horas que não é possível jogar no site da casa de apostas e os programadores estão a trabalhar em contra-relógio para voltar a activá-lo. A interrupção para actualizar o site é inédita e muito prejudicial. Cada segundo que passa são 58 apostas que não entram no sistema; cada minuto são 3500. É que na Wall Street das corridas de cavalos tempo não é dinheiro. É muito dinheiro.

Enquanto maior empresa de apostas desportivas online do mundo, a máquina da Betfair nunca pode parar de rolar. Todos os dias recebe mais de 5 milhões de apostas, vindas dos seus 3 milhões de clientes registados. Em quê? Tudo o que é desporto: dos de massas - futebol, ténis, Fórmula 1, corridas de cavalos, basquetebol - aos de nicho - bandy ou pelota basca. Mas também jogos de casino.

"Começámos com 12 pessoas há dez anos e agora veja lá...", afirma com orgulho Filipe Safont, responsável da Betfair em Portugal. Agora são um gigante. Têm 2 mil trabalhadores, recebem apostas de 120 países, com o site traduzido para 19 línguas diferentes e facturam 400 milhões de euros/ano. Em Portugal, o número de jogadores registados duplica todos os anos.

Coisas de homens O serpentear entre as secretárias da sede faz lembrar um episódio do "The Office" britânico, em que o relações públicas Richard Bloch toma o lugar de um Ricky Gervais magro e loiro. Até o boné esquecido em cima de um computador que grita "I''m fucking busy!" podia ter sido comprado pelo próprio David Brent para incentivar os trabalhadores. Não que precisem. As paredes, os quadros e os vidros estão cobertos de post-its com objectivos por cumprir que, ainda assim, não bloqueiam o efeito hipnotizante da vista que o terceiro andar tem para o Tamisa e... para o Estádio de Wembley, claro.

O sexo masculino ocupa a maioria das cadeiras da empresa, replicando o perfil do jogador da Betfair: homem (85%), empregado, das classes A, B e C, com um nível relativamente alto de escolaridade. Na realidade, a Betfair é uma empresa de engenheiros. Dos 2 mil trabalhadores, mais de metade fazem o trabalho de engenharia informática necessário para manter o site a funcionar 24 horas.

Daí que não seja de admirar que quem queira relaxar tenha direito a uma sala de descontracção com tudo o que um estudante do Instituto Superior Técnico poderia desejar. As paredes - que são também ardósias gigantes - marcam o ambiente da sala. Entre vários rabiscos incompreensíveis, pode ler-se no topo da parede direita: "PES Training Lounge" [Sala de Treino de Pro Evolution Soccer]. São quatro televisões gigantes e o mesmo número de PlayStation 3. O sofá e os matraquilhos também são apreciados, mas a verdadeira relíquia é a mesa de pingue-pongue.

O jogo online faz obviamente parte da vida dos funcionários da Betfair. Mas sem exageros. Para dar o exemplo de responsabilidade, os trabalhadores têm de respeitar um limite em apostas nas suas contas. Mas não podem criar outra conta? "Não...", diz Bloch, com um riso nervoso.

Qualquer pessoa que costume jogar sabe que as apostas são como as cerejas. Atrás de uma vem outra, numa sequência que raramente se mede em menos de dois dígitos. "Há pessoas que vivem disto. Dedicam-se oito horas/dia a apostar e algumas até vendem as estatísticas que compilam", refere Filipe Safont.

Os engenheiros acabaram a actualização a horas e começa a ouvir-se mais ruído. E os 300 milhões de dedos dos apostadores Betfair voltam a bater nos teclados e no rato.

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