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domingo, 20 de fevereiro de 2011

CAVALO BAIXADEIRO DO MARANHÃO


Os animais domésticos de raças antigas, trazidos há séculos para o Brasil, têm qualidades que podem ser úteis para melhorar as raças modernas, de maior rendimento comercial. Daí a importância do Cenarge, um programa da Embrapa Recursos Genéticos para conservar porcos, bois, cavalos e aves dessas raças. O cavalo baixadeiro do Maranhão é uma delas.

O nome baixadeiro vem de Baixada Maranhense, região de origem desse cavalo. Para chegar ao lugar, a equipe de reportagem do Globo Rural deixou a capital São Luís de balsa e na companhia dos três professores da UEMA, Universidade Estadual do Maranhão, que apresentaram raça aos pesquisadores da Embrapa.

O município de Pinheiro, um dos 21 que integram a Baixada Maranhense e com cerca de 80 mil habitantes, é considerado um tipo de capital da região, uma das mais pobres do país.

A cidade de Pinheiro é cercada por planícies, que ficam alagadas boa parte do ano. Na Baixada Maranhense, os animais são criados soltos e se alimentam de pasto nativo. Há quem diga que cavalo para se criar praticamente sozinho, num ambiente parecido ao da região e com campos alagados precisa ter sangue baixadeiro.

Segundo o veterinário Osvaldo Serra, autor de uma dissertação de mestrado sobre o cavalo baixadeiro, para conseguir sobreviver no lugar os equinos precisaram se adaptar. “Foram anos e anos de seleção natural. Foram selecionados aqueles animais resistentes ao ecossistema regional. Os que não resistiam, acabavam perecendo. Por isso, hoje a gente tem uma raça adaptada. A própria seleção natural tratou de fazer também para que ele, com pouco pasto ou um pasto menos nutritivo, conseguisse sobreviver. Outra adaptação muito importante que ocorreu foi o casco. O casco do baixadeiro é muito resistente. Então, pode estar no alagado ou pode estar no torrão, na época seca, ele se adapta tão bem as duas condições”, esclareceu Serra.

Grande parte dos criadores de cavalo baixadeiro vive na cidade. A lida fica por conta dos tratadores. O manejo acontece só de quatro a cinco vezes por ano, quando animais de vários donos são agrupados para um trato coletivo.

O Globo Rural acompanhou o trabalho em um desses dias, que costumam ser muito festivos. É quase uma reunião entre amigos. Os animais são laçados um a um e o manejo é bem rústico. Os peões cortam a crina no facão.

O tratador José Rodrigues e os outros colegas acreditam que a crina enfraquece o animal. “Se deixar, a crina chupa o sangue do animal”, explicou.

Enquanto alguns tratadores cortam a crina, outros tratam o carrapato com óleo queimado e creolina. Eles acreditam que o baixadeiro tenha uma tolerância maior aos parasitas. Raças comerciais definhariam muito mais rapidamente diante da infestação.

O manejo baixadeiro foi sendo passado de pai para filho. É raro ter orientação veterinária pela região.

O pagamento pelo serviço dos tratadores é feito em forma de potro. No final de cada ano, o tratador se encontra com o dono dos animais para contar os potros que nasceram. A cada quatro potros nascidos, três ficam com o dono e um com o tratador. José Rodrigues, por exemplo, cuida de 60 éguas, mas ele tem de se virar para conseguir dinheiro.

O criador João França disse que nem o dono dos animais consegue ganhar dinheiro com o baixadeiro. “Uma égua baixadeira hoje vale cerca de R$ 200 a R$ 300 ou até R$ 500, de acordo com o animal”.

Para José Dias, criador e veterinário da região, resistência é a palavra que define o cavalo baixadeiro. “É um animal valente demais. Outros cavalos de raças melhoradas não aguentam. Eles não têm casco, não têm resistência e não aguenta parasita como carrapato. Em pouco tempo, eles estão acometidos de muitas doenças e morrem. Esse é um monstro”, definiu.

Todas essas características fizeram com que os professores da UEMA, Universidade Estadual do Maranhão, procurassem a Embrapa para apresentar o baixadeiro. “Nós pretendemos avaliar o efetivo da população na Baixada Maranhense”, explicou Francisco Lima, veterinário do UEMA.

O segundo ponto é a criação de um núcleo de conservação no campus da UEMA na Baixada, que teria um plantel próprio e serviria também para orientar os criadores e tratadores da região sobre técnicas de manejo e de reprodução.

“Hoje, nós temos um problema sério que envolve consanguinidade do grupo justamente por conta de não haver por parte do criador a percepção de como a consaguinidade, ou seja, o irmão cruzando com a irmã ou o pia com a filha, como ele deprecia esse material genético e faz com que ele tenha uma vida limitada”, apontou Francisco Lima.

No futuro, com o avanço da biotecnologia e com o sequenciamento genético, vai se tornar cada vez mais fácil a transferência de genes de uma raça para outra.

O cavalo baixadeiro foi o último animal incluído no programa de conservação da Embrapa.

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