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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Carlos Carlindo conta um pouco da sua história no Turfe


Filho de um dos grandes nomes do Turfe brasileiro, e em especial das Canchas Retas (o saudoso João Carlindo), Carlos Cesar é médico veterinário formado pela Universidade Federal do Paraná em 1986. Casado com Ingeborg Dummer Carlindo (alemã) é pai de Eduardo e Leonardo (inclusive proprietários do Stud Edu Du Car) e treinador de cavalos de corrida desde 1981. Vitorioso na profissão, é conhecido e respeitado no mundo turfístico, já que seus animais vencem constantemente no Tarumã, Gávea, Cidade Jardim e sempre entre os favoritos.

RL - Por que no começo da profissão, seguindo os passos de seu pai João Carlindo não começou nas retas?

CC: Na verdade meu primeiro contato com o turfe aconteceu ainda quando criança, quando no Jockey Club de São Paulo, acompanhava as corridas para ver meu pai montar. Isto foi até 1972. Depois, quando nos estabelecemos em Curitiba, passava as férias escolares em nosso haras acompanhando toda a “lida” diária. Não faltou escovar e alimentar os animais. Até a limpeza das cocheiras eu fazia. Também nesta época acompanhava meu pai em muitas viagens pelos vários hipódromos do Brasil, e quando estava em Curitiba ia sempre ao hipódromo ou ouvia pelo rádio todos os páreos do domingo. Em julho de 1981 meu pai precisava de ajuda na cocheira que mantinha no Tarumã. Foi quando tirei matrícula de treinador e começamos a trabalhar juntos. Com isso resolvi largar uma Faculdade de Engenharia e fazer uma de Veterinária. Como Já estava instalado no Tarumã em Curitiba, e cursando faculdade, não havia condições de sair para as “pencas” do interior. Ficava, então, comandando a cocheira no Tarumã, enquanto meu pai viajava pelas canchas retas do Brasil.

RL – Quando começou como veterinário e quais treinadores você atendia?

CC: Minha matrícula de treinador é de 1981 e meu diploma de veterinário de 1986. Então, quando comecei a exercer a medicina veterinária foi de uma maneira muito natural, pois já conhecia muito bem o ambiente turfístico. Tive alguns problemas no início, pois alguns treinadores da época achavam que, como meu pai mantinha muitos cavalos no hipódromo (eram quase 100), eu iria procurar favorecê-los. Então, havia certa desconfiança. Felizmente eram poucos os que tinham essa mentalidade atrasada. Neste ponto tenho que agradecer muito ao treinador Silvio Batista Piotto, que foi o primeiro treinador a confiar em meu trabalho. Lembro-me do cavalo Astound, que ele treinava, e que tinha sido dado como inutilizado para corridas. Após um tratamento intensivo de raio laser consegui a sua recuperação e ele venceu um GP por vários corpos, inclusive sobre um cavalo de propriedade de meu pai. Foi aí que comecei a ser respeitado na minha profissão. Depois disso atendi animais do Carlos Pereira Gusso, Baltazar Correa, João Maria Ferreira, Adélcio Menegolo e muitos outros.

RL - Por que resolveu parar com a veterinária e requerer sua matrícula de treinador ?

CC: A afirmação de que parei com a veterinária não é verdadeira. Com todos os proprietários com quem trabalhei sempre fui o responsável pelo treinamento e pela parte veterinária dos animais. Ainda hoje faço a parte clínica e cirúrgica dos animais a meus cuidados. Jamais deixei de exercer a profissão. Inclusive me sinto um treinador mais bem preparado pelo fato de ser veterinário. O conhecimento mais completo do cavalo, como a sua anatomia e fisiologia além de todas as patologias, muito me auxiliou a conseguir ótimos resultados nas pistas. Creio que isto é verdadeiro, veja, por exemplo, a excelente fase do Estanislau Petrochinski, que além de excelente treinador também é veterinário formado. E outros exemplos existem... Acontece que a dedicação com o treinamento tem que ser diária e com isso não há tempo para atender muitos outros clientes. Hoje acompanho os animais que estão sob meus cuidados e de alguns amigos.

RL - Quais foram seus primeiros proprietários como treinador?

CC: Nunca fui treinador de muitos proprietários, mas sim de grandes proprietários: - João Carlindo, Haras Alsiar, Haras Francine, Haras Basano, Haras J.B.Barros, Haras Ponta Porã foram os maiores. Com o Haras J.B.Barros foi uma experiência fantástica, pois obtive sucesso (50 vitórias em um ano) atuando em um centro de treinamento. E com o Haras Ponta Porã foi uma parceria vitoriosa (125 vitórias só no primeiro ano) e duradoura, pois lá se vão 13 anos de um convívio que além de ser profissional também é de muita confiança e grande amizade. Só tenho a agradecer ao Sr. Camil Jamil Georges e sua bela família.

RL - Qual a sua maior alegria como treinador?

CC: Olha, já tenho alguns anos como treinador de cavalos, e sempre vencer é o que me deixa alegre; não gosto nem de fazer segundo. Comecei bem, pois a minha primeira vitória veio logo na estréia e em recorde. Mas sem dúvida as provas de Grupo são as que mais marcam. É difícil, mas posso citar a vitória de Empire Day na Taça de Prata (G1), onde vencemos com um animal invicto em nove corridas, com sérios problemas locomotores, no photochard e de um animal do grande Haras Rosa do Sul que naquela época estava no auge. Era obrigação vencer, e conseguimos. O hipódromo lotado com o público aplaudindo sem parar. Foi uma emoção sem igual. Meu pai deu até uma cambalhota na pista de grama. Mas muitas outras vitórias fazem parte de minha vida. Inclusive as três vencidas no último dia 04 de fevereiro no Tarumã, terminando a reunião invicto, me deixaram bastante satisfeito. Também quando meus filhos vêm ao Jockey torcer pelo seu Stud Edu Du Car, e na foto da vitória com grande alegria comentam do avô, é muito especial pra mim.

RL – E qual sua maior tristeza na profissão de treinador?

CC: A tristeza de ver que a nossa profissão não é reconhecida por muitos. Não temos o real valor que merecemos. Já visitei alguns países e vejo que neles o reconhecimento do profissional de turfe é outro. Lá, mesmo sendo apenas um turista estrangeiro, fui tratado como “O PROFISSIONAL DE TURFE DO BRASIL”. No exterior os profissionais são ídolos para muitos, mas aqui somos tratados como dispensáveis. Quando alguém pensa em melhorar o turfe no Brasil, não incluem o profissional para nada. Nossa opinião parece não ser importante para a maioria. Sou Sócio-Ouro do Jockey Club do Paraná, e mesmo sendo veterinário, criador e proprietário, não tenho direito a voto porque sou profissional do turfe. Esta é a mentalidade... Talvez, se tivéssemos um maior valor, o turfe poderia estar em situação melhor.

RL - Hoje conta com quantos animais aos seus cuidados?

CC: Estou treinando atualmente cerca de 20 animais. A maioria de propriedade do Haras Ponta Porã, que é um haras que coloca toda a sua produção a venda. Portanto, fico com o que os compradores não querem ou aqueles que tiveram problemas. Assim, não é fácil competir com os treinadores que possuem o “Top” dos animais. Mas fico satisfeito, pois mesmo assim consigo mostrar um bom serviço.

Agora, no turfe atual não são muitos os treinadores que possuem as cocheiras cheias, e com as mudanças que a Vila Hípica do Tarumã deverá sofrer nos próximos meses, todos nós da classe profissional estamos muito preocupados e, portanto, já estou com alguns possíveis projetos alternativos para 2011.

RL - O que espera do futuro do Turfe?

CC: Veja bem, nós sempre torcemos para que o turfe seja mais profissional no Brasil. Que ele esteja, se não próximo, pelo menos no caminho do primeiro mundo. Somente assim teremos futuro. Entretanto, para isto seria necessária uma mudança completa de mentalidade dos dirigentes. Precisamos de associações fortes e inteligentes para incentivar os criadores, que hoje estão totalmente desmotivados fazendo sucessivas reduções e liquidações de plantéis. Clubes de corridas dirigidos por quem entende e gosta do cavalo, e uma real união entre todos é urgente. Deixemos de falar em turfe paulista, turfe carioca, paranaense e gaúcho e passamos a falar em turfe brasileiro. Chega de planos e vamos partir para a ação. - Quantos anos de estudo ou negociação ainda serão necessários para a implantação da tão esperada pedra única? Já ouço falar nela há pelo menos 10 anos. Quando implantarem talvez seja tarde.


RL - Seu pai foi um grande nome do Turfe brasileiro e talvez o grande nome das canchas retas, que ensinamento ele deiou e você jamais esquecerá?

CC: Meu pai me ensinou muito. Porém, apesar de ter sido um gênio na arte de treinar e selecionar cavalos campeões, o que mais me chamava à atenção em meu pai era a sua disposição e a sua confiança. Ele nunca teve preguiça para nada. Não importa se tivesse ido dormir de madrugada, levantava ainda no escuro para ir ao hipódromo.
Não importa se tivesse vencido um Grupo 1, ou tivesse tido várias derrotas na véspera, lá estava ele levantando para dar a atenção necessária a todos os seus cavalos, enquanto a maioria ainda dormia. Era sábado, domingo, Natal ou feriado, chuva ou sol, noite e dia, e lá estava ele procurando descobrir um novo talento e proporcionar a ele todas as condições para que se tornasse um campeão.

Também sempre teve total confiança em todas as suas decisões. Se gostasse da “expressão” de um potro no tattersal, mesmo sem tê-lo examinado de perto, não receava em comprá-lo. Sou suspeito para falar, mas acredito que ainda demorará muitos anos até que apareça, no nosso mundo turfístico, outro João Carlindo.

Redundante seria dizer que ele faz muita falta para mim e para o turfe.

Portanto hoje, seguindo os seus ensinamentos, tenho muita disposição de seguir em frente e confiança de que tudo vai dar certo.

por Leandro Mancuso

Um comentário:

  1. Parabéns Dr Carlos C Carlindo,o seu trabalho merece elogios e com certeza onde estiver o Sr João Carlindo estará orgulhoso de saber que seu trabalho continua através do senhor.
    Maria Silvia

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