Páginas
▼
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
TIAGO JOSUÉ PEREIRA, O CIGANO PARTE PARA MAIS UMA AVENTURA
No final deste mês o turfista carioca não terá nos programas oficiais do Jockey Club Brasileiro o nome de Tiago Josué Pereira. Requisitado pelo Jockey Club de Macau para uma temporada de seis meses, o jóquei gaúcho decidiu aceitar o convite feito desde abril. Tiago monta na Gávea até o feriado do dia 12 de outubro. Depois faz as malas e vai para o Rio Grande do Sul casar com a veterinária Fernanda França Machado, que trabalha no Jockey Club Brasileiro. De lá, ele parte para o Oriente para escrever mais um capítulo da história de sua vitoriosa carreira, cujo ponto mais alto foi à vitória na Dubai World Cup, com o craque Glória de Campeão, do Stud Estrela Energia.
Tiago Josué Pereira, 33 anos, gaúcho de Sapucaia do Sul, é mesmo um andarilho. O menino franzino do interior, de família pobre, começou a montar nas canchas retas de Venâncio Aires, Esteio, Santo Antônio da Patrulha, Camacuã, Alvorada e Guaíba, entre tantas outras. Em 1993 viajou para Porto Alegre e de lá para o Rio de Janeiro, para logo em seguida conhecer o mundo. Montou em São Paulo, Paraná, Argentina, Uruguai, França, Dubai, Cingapura, etc. Conheceu dezenas de hipódromos e teve dezenas de endereços. Há 14 anos no turfe carioca ele mudou sua vida. Amadurecido, Tiago afirma que depois de ganhar a Dubai World Cup se sente confiante e preparado para aceitar o novo desafio.
“Estou embromando os gringos desde abril. Tinha esperança de fazer um grande contrato aqui no Brasil depois de ter ganhado a prova de maior dotação do mundo. Isto não aconteceu. Agora, o pessoal de Macau transformou o convite em ultimato. Ou vou para lá agora ou eles vão convidar dois jóqueis de outros países. Gosto do Brasil, mas tenho que pensar no futuro da minha família. As coisas aqui estão bem devagar. Você vence uma prova com esta em Dubai, recebe reconhecimento no mundo todo e aqui não consegue convite nem para montar o Grande Prêmio Brasil e o Grande Prêmio Paraná”, dispara.
Tiago recorda que logo depois de vencer a Dubai World Cup recebeu convite para montar em Cingapura aonde ganhou. Aqui no Brasil, em sua opinião, as coisas são diferentes. O reconhecimento não vem. “Veja o exemplo do Ricardinho que é um fenômeno. Depois de ganhar a estatística por 24 anos no dia da sua despedida montou para um hipódromo vazio. Lembro-me dele se despedindo do punga na pista e do pessoal da ambulância na largada do último páreo. No exterior, os caras teriam feito uma festa de parar o país para um esportista com tantos recordes. Hoje, ele é um deus em Buenos Aires. Aqui passeava anônimo pelas ruas”.
Tiago nunca teve vida fácil. De família humilde passou por enormes dificuldades. Montou no Hipódromo do Cristal a partir de 1993 até transferir-se para a Gávea em 1996. Não conseguiu a descarga como aprendiz, ao contrário de outros colegas, e teve que encarar as feras peso a peso. Segundo ele, nunca teve padrinhos para facilitar sua caminhada. Depois de 14 anos no Rio de janeiro ele comprou três apartamentos, uma cocheira com bela casa e 13 boxes. Com a segurança da comissão pelo triunfo na Dubai World Cup, ele acha que chegou a hora de casar com Fernanda e enfrentar com ela esta nova aventura.
Na minha vida nunca tive moleza. Sempre corri atrás para ter as coisas. Trabalhei muito para chegar até aqui. Só eu sei as dificuldades que eu, minha mãe e meus irmãos passamos devido à pobreza. Hoje posso andar de cabeça erguida. Sou um profissional de gabarito apesar do meu jeito brincalhão. Faço o peso sempre correto, cumpro os meus compromissos de montaria e não me escondo do trabalho. Mas admito que seja irrequieto e as coisas aqui ficaram sem perspectivas para mim”.
Com relação ao novo desafio no exterior, desta vez em Macau, ele garante estar preparado. A experiência na França e em Dubai com os cavalos do Stud Estrela Energia lhe transmitiu muita confiança. A exigência de absoluto profissionalismo por parte dos dirigentes estrangeiros não o assustam. Admite ter conversado com Luiz Duarte, que montou por três temporadas por lá, e tomou conhecimento das dificuldades com a cultura, muito diferente da nossa. “As maiores dificuldades são o idioma, o peso e a alimentação. Fiz um curso de inglês recente que me será útil. O peso será uma parada dura. Terei que ficar de 52 quilos, mas em compensação neste ponto a gastronomia local com espeto de escorpião e carne de cachorro vai me ajudar a ficar magrinho”, brinca. A presença dos jóqueis brasileiros Fausto Durso e Manoel Nunes, há muito tempo em Macau, também será favorável na opinião de Tiago. Ele acredita que a convivência com eles vai facilitar sua adaptação. “Eles podem me dar algumas dicas valiosas”, argumenta.
Tiago não gosta de citar nomes das pessoas importantes em sua carreira com medo de ser injusto e de se esquecer de alguém. Lembra com carinho, entretanto, das primeiras oportunidades dadas pelos veteranos treinadores, Jaime Muniz Aragão e Alcides Morales. Fala com emoção do primeiro contrato com o Stud São Pedro da Aldeia e dos seis anos como jóquei preferencial do Stud Bela Vista, depois Palura. Todas estas oportunidades lhe proporcionaram ir para o Stud TNT, ganhar status e substituir na coudelaria o maior jóquei brasileiro, Jorge Ricardo.
“Tive muitas emoções no turfe carioca. A minha primeira vitória de grupo I com Evil Knievel, o Grande Prêmio São Paulo com Jeune-Turc, quando recebi a taça das mãos do Pelé, o Major Suckow com Sol de Angra e a estatística de jóqueis no primeiro ano em que o Ricardinho foi para a Argentina. Mas foi no dorso de Glória de Campeão, na Dubai World Cup, que caiu a ficha. Em cima do cavalo, na hora da entrega dos prêmios, eu olhava para aquela multidão de estrangeiros. Tinha gringo de tudo o que era canto. Jornalistas do mundo inteiro. Naquele momento pensei nos tempos de menino, em Sapucaia do Sul, de pé descalço, e perguntei a mim mesmo como é que tinha conseguido ir tão longe. Só poderia ser um sonho. Ou então coisa de Deus”, falou emocionado.
por Paulo Gama
Nenhum comentário:
Postar um comentário