Um bom haras – boas instalações e cercas, funcional, abrigado, arborizado, sem necessidade de luxo ou ostentação mas de qualidade técnica. Ter um centro de treinamento no próprio haras pode ser extremamente útil, mas suas atividades não devem se misturar com as do haras. (Há um lugar que possamos chamar de "melhor" para se criar cavalos no Brasil: Jaguariúna/Campinas, São José dos Pinhais, Bagé, etc...
Boas pastagens – A comida natural do cavalo é o pasto. É muito variável de acordo com as regiões do país e com as estações do ano. Uma boa assistência agronômica é necessária, desde que o agrônomo compreenda que o pasto não é o produto final, mas sim o cavalo. Há também a necessidade periódica de análise das pastagens (foliar) para acertos e correções na suplementação. Os capins tifton, coast cross, transvaal etc., são úteis para a criação, pois derivam da bermuda grass, a partir da qual foram aperfeiçoados.
Um bom plantel – Um banco genético de alta qualidade, formado aqui e também importado. É preciso renovar e injetar, periodicamente, sangue novo, atual, nacional e estrangeiro. Trocar 5% a 10% do plantel de éguas anualmente é uma boa política. Na criação em geral, o critério de bom é e não é relativo, pois é comparativo. Quanto mais crítico for o criador, mais seletivo ele será, e melhor será o seu plantel. Porém, para ser crítico, é preciso conhecer. Acionar, caso contrário, alguém que conheça o assunto, que pode ser outro criador, um hipólogo, um veterinário. Não deixar se envolver sentimentalmente por nenhum animal (éguas e sobretudo garanhões). O capitão Bela Wodianer, um dos meus mestres, ensinou-me cedo que "de cavalo não se gosta – se tem respeito pelo bom". Lembrar-se da grande importância das éguas, das linhas maternas vivas. Não iludir-se. Não acreditar que um ótimo garanhão vá fazer milagres com matrizes fracas. O criador precisa conhecer a genética para melhor entender os cruzamentos que promove em seu haras.
Suplementação – Variável de acordo com a região, a estação do ano, as análises das pastagens, a idade dos animais, etc. Nos tempos atuais, dispomos de muito mais recursos do que há 10 anos, e nem dá para comparar com os recursos de 15 ou 20 anos atrás, o que nos permite adequar corretamente e individualizar a suplementação, que entendemos ser tudo aquilo que é oferecido como alimento, além da pastagem, ou seja, grãos, pellets, leguminosas frescas ou fenadas, e suplementos vitamínicos e minerais. "A metade do pedigree entra pela boca", costumo dizer aos amigos e clientes. Nós faremos muito se dermos aos animais as condições para que se desenvolvam na plenitude de seu patrimônio genético.
Manejo – É preciso formar uma equipe de padrão, que saiba respeitar a natureza e o cavalo, com suas particularidades, sem traumatizá-lo, sobretudo nas fases de 1ª infância, doma e início de treinamento. É necessário também ater-se a todas as formas de higiene do estabelecimento e dos animais, sobretudo agora que os cuidados com as exportações de cavalos passam a ser cada vez mais controladas pelas autoridades sanitárias em razão de doenças como a piroplasmose. No manejo, entra ainda o trabalho de um bom casqueiro, profissional que deve integrar a equipe do haras. No foot, no horse (sem pé, não há cavalo), já diziam os ingleses.
Assistência veterinária – Compreende inúmeras áreas da medicina veterinária. Podemos começar aqui por um correto acompanhamento reprodutivo, que é de fundamental importância no cavalo puro-sangue inglês, em sua temporada de monta. Outro ponto vital é a implantação de um programa de vacinação, principalmente contra influenza, encefalomielite, tétano, rodococcus, rotavirus, raiva, rhinopneumonite etc., com a profilaxia de doenças infecciosas endêmicas e das que especificamente ocorram em uma determinada região. Um eficiente programa de combate às parasitoses, sobretudo as do aparelho digestivo, também deve ser implantado pela equipe do haras. Fazer ainda o acompanhamento individual dos animais em criação, com a adequação das rações que se pode fazer atualmente, devido à grande variedade de produtos oferecida pelo mercado. Neste tópico, o veterinário tem a obrigação de conhecer cada animal, e suas famílias materna e paterna, do haras que atende, o que facilitará seu trabalho na hora de constatar alterações no estado de desenvolvimento da saúde de cada um.
Regras do mercado – É preciso que os profissionais tenham respeito pelas regras do mercado e conhecimento da capacidade competitiva do ambiente. A recessão contribui para a seleção. Até o mais renitente parte para a seleção quando seu bolso (a parte mais sensível do homem) é atingido. Quem não tiver qualidade, não terá espaço no mercado, e provavelmente também não encontrará lugar nas pistas de corrida. A diminuição do plantel brasileiro do cavalo puro-sangue inglês e da produção anual de potros em cerca de 30% já é sinal dessa seleção. Pode até ser que faltem animais nos próximos anos para a formação dos páreos, mas o que não pode acontecer é levar todos para a reprodução. Há algum tempo, já não temos animais com menos de 400 quilos, cascos encastelados, epifisites e outras anomalias que eram vistas com freqüência. As técnicas de criação evoluíram muito e aqui no Brasil houve grandes avanços pela troca de informações que os técnicos mais velhos fizeram junto aos jovens, estudantes, estagiários e profissionais. Os potros devem nascer entre julho, agosto, setembro e, no máximo, outubro, fugindo do nascimento em novembro e dezembro, o que prejudica a comercialização e a primeira campanha, aquela feita aos dois anos de idade hípica. Com um pouco de trabalho, dá para acertar os ponteiros e conseguir isso. Nossa criação não tem as condições ecológicas ideais, como têm os argentinos, chilenos, irlandeses e norte-americanos. Ecologia você compensa até certo ponto. Mas hoje, dominamos o manejo que falamos acima e temos um bom banco genético. Não é por outro motivo que cavalos como Siphon, Sandpit e Romarin se destacaram no concorrido calendário clássico dos Estados Unidos. Acredito firmemente que não ficaremos só nesses animais; outros ainda surgirão para seguir na trilha aberta pelos três campeões. A criação brasileira, muitas vezes esquecida pela mídia, tem produzido e entregue ao turfe animais cada vez melhores e dignos do Primeiro Mundo. Nunca é demais lembrar que os potros não nascem com dois anos, nas cocheiras dos treinadores!
Dr. José Luiz Pinto Moreira
http://www.bichoonline.com.br
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