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sábado, 18 de setembro de 2010

Jockey Club Brasileiro versus Especulação Imobiliária


Um páreo muito feio...

Todos já sabem, até os leigos em turfe sabem, que há tempos o Jockey Club Brasileiro carece de uma administração competente, seja do ponto de vista técnico, seja do operacional, com ações de marketing consistentes que possam reconduzi-lo a um patamar no mínimo aceitável vis-a-vis as atividades congêneres no resto do mundo. Inclusive na América do Sul, onde a indústria do turfe ocupa uma posição de enorme destaque, bastante acima da nossa.

Há pouco tempo, compareci a essa importante tribuna da imprensa carioca para denunciar o projeto que previa a instalação de máquinas “caça-níqueis” no interior das edificações do hipódromo, por entender que tal exploração estaria em total desacordo com a história desse clube, e o transformaria em mais um cassino, sem nenhuma correlação direta com as premissas e os conceitos básicos que o criaram. Cassino é cassino, turfe é turfe. Há um abismo de qualidade e de percepção entre as duas coisas.

Todavia, o descaso e o abandono da nossa atividade acabam de atingir - pasmem os senhores leitores dessa revista - as cocheiras dos cavalos. Isso mesmo, o presidente do JCB acaba de anunciar um projeto que tem por única finalidade demolir as centenárias vilas hípicas do hipódromo, que abrigam hoje (mesmo que subutilizadas por falta de gerência) cerca de 900 animais, e trocá-las por um mar de escritórios comerciais, e uma espécie de Shopping Center disfarçado de “centro cultural”, num dos maiores sítios arquitetônicos existentes no Rio de Janeiro.

E tudo isso, em meio a uma área já tombada pela União, formada por pistas de corrida e magníficas tribunas, construídas no início do século passado e, portanto, preservadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, contemplada por um plano diretor que prevê apenas a construção de imóveis residenciais, com gabarito máximo de sete metros de altura. Nada, porém que comovesse ou arrefecesse o ímpeto da especulação.

Tudo, também, sem nenhum tipo de disputa, sem ouvir qualquer outra construtora, utilizando apenas uma única proposta, coordenada por uma empresa, que, por sinal, pertence a um dos sócios da entidade, que acenou ao clube com a importância correspondente a somente 1/8 (um oitavo) do resultado da operação feita no terreno de propriedade dos sócios do JCB.

Ou seja, o clube ficaria com 12,5% da receita, enquanto os outros 87,5% seriam distribuídos a rodo, durante os próximos 50 anos, entre os empreendedores imobiliários e seus associados. Parodiando nome de filme, uma proposta indecente.

Com a aprovação do projeto os empreendedores imobiliários, escolhidos sem qualquer tipo de concorrência, embolsariam uma quantia liquida superior a CINCO BILHÕES DE REAIS, enquanto o clube, com um milhão e meio de reais ao mês não conseguiria sequer suprir o prejuízo financeiro imposto pela expulsão dos novecentos cavalos alojados nas cocheiras que se pretende demolir para dar espaço ao maior escândalo imobiliário jamais visto na história da cidade do Rio de Janeiro em todos os tempos.

Que se dane a última área preservada da zona sul da cidade! Que se corte as árvores, que venha o caos no trânsito! Que se sitie e se envolva num engarrafamento definitivo a Lagoa e o Jardim Botânico. Que se anule qualquer possibilidade de expansão futura da atual sede esportiva do JCB. Que se destrua uma atividade que dá emprego a mais de 15 mil pessoas pelo Brasil afora. Tudo feito às pressas, em nome de um falso progresso, da falsa sensação de prosperidade, da falsa responsabilidade para com a digna história do clube, e do falso compromisso com a nossa cidade.

O caráter messiânico dessa administração do JCB, seu notório voluntarismo, e seu absoluto descompromisso com a participação de importantes membros do quadro social, levaram hoje o clube a um beco sem saída. O pior de sua história. Com o agravante de ter dividido e dispersado as melhores lideranças da instituição, afastando-as – desiludidas umas; desenganadas, outras; decepcionada, a maioria delas – em relação a qualquer possibilidade de convívio saudável no âmbito do JCB.

O grande “crime” – e este hediondo, inafiançável – que os atuais “administradores” cometeram em relação ao Jockey Club Brasileiro, foi transformar o caráter e a natureza da entidade, antes uma sociedade de amigos com interesses comuns, num amontoado disforme de narcisismos e fomes pretéritas por representatividade as mais conflitantes e vis.

No momento em que a nossa cidade ganha dois eventos mundiais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, essa administração resolve empunhar a bandeira do anti-esporte, do anti-nacionalismo, da anti-instituição, demolindo as cocheiras de um clube hípico; no momento em que a ONU estuda formas de incentivar a Paz, o “presidente” do JCB está investindo na guerra dos caça-níqueis; no momento em que as organizações ambientais lutam para preservar o planeta, o clube busca cortar cento e vinte e quatro mil metros quadrados de árvores centenárias da zona sul da cidade maravilhosa.

A esperança é de que o tempo que resta deste mandato (um ano e oito meses) passe mais rápido do que o calendário sugere. E quando maio de 2012 vier, que os homens equilibrados, os de bom senso, os que não se julgam heróis, os que desdenham a vaidade (o pecado preferido do demônio...), os que pensam antes de agir, os que prezam e respeitam a opinião de seus iguais, sócios do clube, retomem a condução dos destinos do JCB.

Que a sociedade carioca, seus legisladores, as várias associações de bairro, e os sócios do Jockey Club Brasileiro digam NÃO! a essa barbaridade!

Jéssica Dannemann, 23 anos, criadora e proprietária de cavalos de corrida.


CREDITO - Veja Rio

Um comentário:

  1. post interessante!
    meu nome é Victor e sou de Barcelona. Eu vou estar no Rio por alguns meses, e eu encontrei essa informação. Gostaria de saber se há alguma atividade planejada para compreender melhor o tema.
    muito obrigado

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