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terça-feira, 21 de setembro de 2010
HENDERSON FERNANDES "O JOQUEÍ"
Turfe pode embalar no ritmo avassalador de H.Fernandes
Na minha estréia aqui no Raia Leve tive a preocupação de entrar com o pé direito. E naquela oportunidade, há dois meses, nada me pareceu mais atual, arrebatador e produtivo do que o resultado nas pistas do aprendiz Henderson Fernandes. A matéria teve ótima receptividade e o público turfista pode conhecer um pouco mais sobre o jovem talento. No caderno de esportes do jornal O Globo, do último domingo, o competente jornalista Marco Aurélio Ribeiro conquistou uma página num dos espaços mais nobres da imprensa esportiva nacional graças ao menino prodígio, que lidera a estatística carioca. Por que será que eu e o meu querido amigo Marco Aurélio procuramos o mesmo caminho para desenvolver a nossa atividade profissional?
A resposta é muito simples. O esporte vive dos seus ídolos. São eles que seduzem as multidões. Só eles causam polêmicas, discussões intermináveis e bate-bocas fenomenais nos salões de barbeiro, nos botequins, nas bancas de jornal, no metrô e até mesmo na sala de espera dos cinemas e dos hospitais. O ídolo é o diferencial. Ele transcende o cidadão comum. O seu carisma envolve e divide os aficionados. Ele é deus para aqueles alinhados ao seu lado, no seu time. Mas transforma-se rapidamente no diabo para o rival. O esportista fora de série é o porto seguro dos seus fãs e ao mesmo tempo, o tormento para os adversários.
Outro menino de 18 anos, portanto com a mesma idade de Henderson Fernandes, é o esportista mais falado, discutido e polemizado do país na atualidade. O craque de futebol Neymar, do Santos Futebol Clube. Além do fato de vestir a camisa do clube de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o garoto rebelde da Vila Belmiro, reina no esporte mais popular do planeta. Tudo o que ele faz, fala ou interage no seu Twitter causa polêmica e divide os cidadãos. Irreverente, desconcertante, abusado, mas incrivelmente talentoso, ele leva ao delírio uma multidão de adolescentes e crianças pelo Brasil afora. Na entrada em campo do seu time a torcida já observa de imediato o diferencial. Dezenas de crianças disputam com fervor as duas mãos do craque. E as câmeras e os holofotes não saem de perto dele. O sorriso maroto, o cabelo arrepiado e os trejeitos são sinônimos de ibope. Só o craque é ibope. Os demais são coadjuvantes.
Nos últimos anos o turfe perdeu espaço na mídia. E com certeza, um dos principais motivos, foi à aposentadoria de Juvenal Machado da Silva, e a transferência para o turfe argentino de Jorge Ricardo. Nos dois casos, os dirigentes turfistas cochilaram. Incapaz de saber reverenciar e avaliar a importância destes dois ícones na estrutura geral, o turfe sucumbiu. Juvenal poderia ter recebido maior apoio e prolongado sua brilhante carreira. Jorge Ricardo ficou seis meses na ponte-aérea Rio de Janeiro-Buenos Aires na esperança de permanecer aqui. Naquela oportunidade, eu trabalhava na função de seu agente de montarias e lembro-me dele dizer decepcionado. “É Paulo Gama, eu vou ter que ir embora. Ninguém me procurou para saber se pode cobrir a proposta dos gringos. O tempo está passando e não posso deixar esta chance escapar”.
Juvenal parou e Ricardinho foi embora. A saída de cena dos dois grandes ídolos causou enorme lacuna em termos de espaço nos meios de comunicação. A diretoria do Jockey Club Brasileiro tem uma nova oportunidade. Um aprendiz, nascido no subúrbio, de família classe média, sem nunca ter convivido com um cavalo de corrida, chegou de mansinho e hoje, é a maior estrela do turfe carioca. Ele tem todos os coringas. Ele dá as cartas e elas estão todas nas suas mangas.
Diferente de Neymar, Fernandes é calado, tímido, respeitoso e sem aquele jeito fashion. Com certeza não vai causar tanta polêmica fora das pistas. Mas dentro delas ele tem sido espetacular. Corre os cavalos com frieza, lucidez e precisão. Em menos de três meses de estatística, ele soma 79 vitórias. Cabe aos responsáveis pelo marketing do Jockey Club estender o tapete vermelho, acender as luzes e abrir espaço para o garoto. Ele pode embalar o turfe antes mesmo do hipódromo virar Boulevard...
por Paulo Gama
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