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quarta-feira, 22 de setembro de 2010
EUA COGITAM USAR ANTICONCEPCIONAIS EM CAVALOS SELVAGENS
A antiga controvérsia sobre o que fazer com os últimos cavalos selvagens da América voltou à superfície. No ultimo verão, funcionários do governo federal dos EUA disseram ter tantos cavalos selvagens em cativeiro – cerca de 34 mil, e aumentando – que queriam autoridade para sacrificá-los, e alguns estados estão considerando o abatimento. Há um custo de US$ 27 milhões por ano para cuidar dos animais, de acordo com o Bureau of Land Management, que fiscaliza o programa de cavalos selvagens.
Cavalos selvagens em reserva da Dakota do Sul (EUA) (Foto: Anne Sherwood/NYT)
Em fevereiro, os republicanos Nick J. Rahall e Raul M. Grijalva introduziram uma legislação federal para evitar o massacre. A verdadeira resposta, de acordo com Jay F. Kirkpatrick, diretor do centro sem fins lucrativos de ciência e conservação no ZooMontana em Billings, é um imunocontraceptivo chamado PZP. "Há mais de 30 mil cavalos selvagens por aí, e eles estão se reproduzindo", disse Kirkpatrick. "O verdadeiro problema não é o que fazer com os cavalos excedentes, mas sim a reprodução. O que você faz com cachorros e gatos em excesso? Você castra".
Kirkpatrick, 69 anos, usa o medicamento para controle de natalidade PZP desde 1988 para controlar as populações de cavalos e cervos. Ele promove seu uso para os cavalos selvagens do governo federal por quase o mesmo tempo, ainda sem nenhuma sorte. Kirkpatrick tem uma visão sobre por que o método não usado de maneira mais ampla. "O problema não é científico, é político e cultural", disse ele. "Estamos lidando com uma cultura caubói. Um deles me disse, 'Nós não fazemos desse jeito; nós fazemos a cavalo, com cordas'".
O Bureau of Land Management tem outra opinião. Eles usam o contraceptivo em cerca de 2.200 cavalos, mas dizem que a técnica tem limites. "Em sua forma fluida, só dura um ano", disse Tom Gorey, porta-voz do Programa Wild Horse And Burro do Bureau, em Washington. "Nós só reunimos os rebanhos a cada quatro anos, então isso é um problema. Se existisse por aí um controle de fertilidade, nós adoraríamos tê-lo", acrescentou Gorey.
Os cavalos selvagens, diz ele, estão espalhados por todo o oeste, e rastreá-los para tratamentos anuais é impossível. "Não somos a Assateague Island", disse ele, se referindo ao pequeno refúgio de cavalos selvagens em Maryland. Quando parte de Assateague Island em Maryland se tornou uma praia nacional em 1968, havia 28 cavalos. A população cresceu para 166 em 1994, quando o Serviço do Parque Nacional pediu a Kirkpatrick que iniciasse um programa para reduzir a fertilidade com PZP. O número de cavalos atingiu um pico de 175 em 2001, e desde então caiu para 130.
Enquanto outras abordagens ao controle de natalidade ou esterilização são hormonais ou químicas, o PZP é um imunocontraceptivo que cria anticorpos que impedem que o esperma se una ao óvulo.
Em dois dias de março, aqui no Black Hills Wild Horse Sanctuary, Kirkpatrick acertou 140 cavalos com dardos de contraceptivo usando uma arma de ar comprimido. Com cada tiro o cavalo pulava, como se ferroado, e rapidamente continuava a pastar. Um tiro de apoio um mês depois deveria evitar que 95% das éguas daqui tivessem filhotes pelos próximos anos. Combinado a uma taxa de mortalidade de 5%, isso deveria parar o crescimento do grupo pela reprodução.
Dayton O. Hyde, proprietário do refúgio local, quer limitar a taxa de natalidade para que possa aceitar mais cavalos. "Os dias em que os cavalos podiam correr livremente pelo oeste terminaram", disse Hyde. "A realidade é que precisamos reduzir seu número." Mas Ginger Kathrens, documentarista que já filmou cavalos selvagens e é uma defensora deles, acredita que o PZP não deveria ser usado em rebanhos, pois em alguns cavalos ele apenas atrasa o nascimento. "Ele causa nascimentos fora de estação", disse Kathrens.
Enquanto cavalos num refúgio podem ser cuidados, os cavalos selvagens que têm filhotes no outono sofrem mais riscos, graças ao tempo difícil. "É uma situação de ameaça à vida", disse ela. "É cruel ver uma mãe tentando amamentar um potro durante uma nevasca. Eles sofrem, e alguns deles morrem".
Inúmeros estudos, publicados por Kirkpatrick e outros em periódicos de pesquisa sobre a vida selvagem, demonstram que o PZP é eficiente para todos, de alces a cangurus. O PZP também está sendo usado em cervos que aparecem em áreas urbanas e suburbanas. Num estudo publicado no ano passado na publicação Wildlife Research, dois pesquisadores usando PZP em cervos no National Institute of Standards and Technology, em Gaithersburg, Maryland, escreveram que durante um período de nove anos, o controle de natalidade reduziu os números em até 60%.
"Solucionamos o problema técnico para a questão dos cervos em cidades, subúrbios e parques", disse Allen T. Rutberg, professor-assistente de pesquisa da Cummings School of Veterinary Medicine, na Tufts University
Cervos urbanos
Quentin Kujala, chefe de departamento da divisão de vida selvagem do Montana Department of Fish, Wildlife and Parks, disse que sua agência não havia usado o PZP por algumas razões. Uma é que alguns cervos urbanos estão num sistema "aberto" e têm pronto acesso à vida selvagem e a cervos selvagens, e é difícil saber quais foram tratados e quais ainda não. Os cervos em Maryland estão num sistema fechado.
Há também questões filosóficas. "Essa é também uma questão de como enxergamos a vida selvagem", disse Kujala. "Quando você dá a um animal um remédio para controlar a reprodução, isso não seria um passo para uma criação de animais?"
Ainda assim, alguns dizem que isso é melhor do que caçar cervos nos limites da cidade. Dave Pauli, um diretor regional da Humane Society of the United States, diz que o PZP é importante. "É uma ferramenta na caixa", disse Pauli. "Mas ele apenas reduz os cervos, então você ainda precisa de coisas como arbustos anti-cervos e bolas de tênis para jogar contra eles".
Kirkpatrick e outros produzem o PZP por conta própria, usando ovários de porcos, num laboratório nas terras do zoológico em Billings. Exige muito tempo e trabalho, mas ninguém descobriu uma maneira de sintetizá-lo. Ele custa US$ 21 por dose e US$ 2 pelo dardo. Em Assateague Island, Zimmerman estima que custe US$ 35 mil para cuidar dos cavalos, incluindo o tempo da equipe.
f:- Globo
g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1096901-5...
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