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quinta-feira, 12 de agosto de 2010
ALCIDES MORALES LENDA VIVA DO TURFE BRASILEIRO
Uma das lendas vivas do turfe brasileiro é o treinador Alcides Morales (e este é seu nome inteiro). Nascido em 20 de outubro de 1928, na Praça Santos Dumont, Gávea, bem em frente ao Hipódromo Brasileiro, aos 8 anos de idade já ajudava na cocheira de Gonçalino Feijó, preparando as camas, escovando e galopando cavalos, enfim, tendo os primeiros contatos com os animais.
“Acho que tudo o que fiz desde o início me ajudou na carreira. Embora não tivesse físico para montar, fui um redeador bem razoável. Lembro-me claramente do cavalo Assalto, que só galopava comigo no picadeiro da escola de aprendizes. Guardo até hoje uma foto dele empinando comigo no dorso”, conta Alcides.
Hoje, com mais de 60 anos de profissão, diz que não esqueceu a primeira vitória:
“Não dá pra esquecer. Aconteceu com a égua Maresia, um presente do treinador e amigo Gonçalino Feijó. Com a concordância do proprietário, ele abriu mão da égua, que marcou meu primeiro triunfo, no já distante ano de 1948”, recorda.
Um currículo invejável
Uma bagagem espetacular. Na atualidade, cerca de três mil vitórias, o que o transforma no segundo maior ganhador da história do turfe carioca, como treinador (atrás apenas do saudoso Ernani de Freitas) e no maior ganhador dentre os que ainda estão em atividade.
“Tive a felicidade de conhecer alguns treinadores de alto gabarito, acredito que quase todos os grandes da profissão. Entre muitos outros, destaco o próprio Gonçalino Feijó, que foi meu grande mestre, Ernani de Freitas e Oswaldo Feijó. Um trio de ouro”, afirma o treinador.
Uma fase espetacular
A melhor fase da carreira de Alcides Morales aconteceu entre as décadas de 70 e de 90, época em que Alcides Morales treinava para o Haras Santa Ana do Rio Grande:
“Fui campeão da estatística durante cinco anos seguidos. Boas épocas. Ganhei dois GPs Brasil. Primeiro com Anilité, em 1984, e depois com Bowling, em 1987, ambos em defesa das cores do Haras Santa Ana, coudelaria para quem trabalhei durante 19 anos, entre 1977 e 1996”, conta.
Mesmo tendo treinado cavalos de grande categoria, como Asola, Anilité, Bowlig, Bat Masterson e Mensageiro Alado, entre muitos outros, Alcides não se esquiva de citar seus preferidos:
“Gostava muito da tordilha Anilité, uma égua espetacular. Depois de fracassar no GP Osaf de São Paulo, venceu o GP Dezesseis de Julho, tradicional preparatória para o GP Brasil, e também a prova mais importante do turfe nacional. Uma vitória que me encheu de brios. Outro cavalo muito simpático para mim foi Bat Masterson. Ele esteve em São Paulo, foi para a serra, mas só corria bem comigo”, diz Alcides, em meio a sorrisos.
Um homem de bem com a vida
Durante muitos anos, Alcides Morales foi visto fumando cachimbo. Era uma espécie de marca registrada. No entanto, em virtude de um pedido feito pela neta Joanna, há três anos Alcides aposentou o aparelho:
“Não poderia deixar de atender um pedido de minha neta. Sou um homem de bem com a vida. Casado com dona Edina há quase 60 anos, tenho dois filhos maravilhosos, a Ângela, mãe da Joanna, e o Alcides Morales Filho, que me deu três netos (Pedro Henrique, Felipe Antonio e João Guilherme) e foi jóquei enquanto estagiava. Ajudou-me bastante e me deu grande prazer quando montou, conseguindo cerca de duzentas vitórias em quatro anos. Atualmente, é alto funcionário do Grupo Peixoto de Castro”, cita com indisfarçável ponta de orgulho.
No momento, Alcides treina nove cavalos, além de 13 do Stud Alvarenga. Vencedor, no último sábado, da Prova Especial Paulo e Nelson Rubens Monte, com o potro Universal Gipsy (foto), do Stud Alvarenga, explica a vitória e diz que vai seguir uma rotina que já vem de muitos anos:
“Os potros do Stud Alvarenga começam na Gávea. Depois, se forem bons, sobem para a serra. Ficam comigo os que não se dão bem por lá. Universal Gipsy teve alguns contratempos, mas pintou bem e confirmou plenamente nossas esperanças. Evidentemente, fiquei feliz com o êxito, até porque há muito não vencia uma carreira clássica. No entanto, recebi a vitória com a naturalidade de sempre. E vou seguir minha rotina de trabalho. Chego ao prado às 5 horas para assistir aos treinos, estico na cocheira até as 12 horas, vou para casa descansar e volto às 15 horas para a segunda etapa na cocheira. E seguirei essa agradável rotina até quando Deus permitir...” finaliza Alcides Morales, com a tranquilidade do dever cumprido. E, como sempre, muito bem cumprido.
João Carlos Faro
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